30 de abr. de 2006

Presente futuro

Estava eu, aqui, pensando na minha vida, sozinha, querendo descobrir o que seria o meu futuro, o que acontecerá amanhã, depois de amanhã, a cinquenta, cem anos.


"Ser contra a globalização é tão razoável quanto protestar quanto ao mau tempo." (Die Zeit)


Será que, no futuro, teria em minha casa um robô que faça as atividades domésticas, atenda à porta e lave o banheiro? Será que nossas casas viverão conectadas, em período integral, com a internet e esta extinguirá o telefone imóvel? Falaremos através de vídeos conferências com as pessoas? Teremos nossas viagens de férias com destinos extra-terrestres? Faremos visitas para cientistas que habitam casas espaciais? As crianças não mais usarão o velho caderno e lápis nas escolas, mas apenas computadores? Os livros serão trocados por sites de pesquisas rápidas e didáticas? Aperfeiçoaremos a telepatia, o teletransporte? Preveremos o nosso futuro? Conheceremos deus? Poderemos nos auto modificar geneticamente para melhorarmos a nossa aparência, no lugar de plásticas e silicones? Usaremos óculos e relógios? Seremos humanos? Seremos felizes?


"As atuais circunstâncias tecnológicas e culturais colocam todos os indivíduos diante de uma bifurcação: deixar-se carregar pela homogeneização massificadora da globalização ou aproveitar as oportunidades, que entretanto existem, para afirmar a própria subjetividade." (Domenico de Masi, O Ócio Criativo , p. 146)


Todos somos conscientes do nosso desenvolvimento durante a história da humanidade, evolução e conhecimento técnico-científico são proporcionais ao andar do tempo. Todas as pessoas, independente de cor, nacionalidade, cultura e renda financeira, serão incluídas nesses "benefícios"? A destruição de línguas e modos de viver de determinadas comunidades humanas é fato atual. Elas sobreviverão a essa revolução-globalizante-alienada? Acontecerá a mesma cena que aconteceu tempos atrás com Incas, por exemplo?


Um comentário:

Amanda Peres disse...

Comentário de Glerger Sabiá:

Parabolicamará
música e letra: Gilberto Gil
1991


Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

Antes longe era distante
Perto, só quando dava
Quando muito, ali defronte
E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes, den de casa, camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação

Pela onda luminosa
Leva o tempo de um raio
Tempo que levava Rosa
Pra aprumar o balaio
Quando sentia que o balaio ia escorregar
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

Esse tempo nunca passa
Não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabaça
Nem tá preso nem foge
No instante que tange o berimbau, meu camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo da volta, camará

De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
De avião, o tempo de uma saudade

Esse tempo não tem rédea
Vem nas asas do vento
O momento da tragédia
Chico, Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino apresentar
Ê, volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará

© Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo)
BRWMB9701935


Ficha técnica da faixa
voz e guitarra: Gilberto Gil

"Eu queria fazer uma canção falando dos contrastes entre o rural e o urbano, o artesanal e o industrial, usando um linguajar simples, típico de comunidades rudimentares, e uma cadência de roda de capoeira. Aí, compondo os primeiros versos, quando me ocorreu a palavra 'antena' - seguida de 'parabólica' - para rimar com 'pequena', eu pensei em 'camará' [palavra usada comumente nas cantigas de capoeira como vocativo] para completar a linha e a estrofe. Como 'parabólica camará' dava um cacófato, eu cortei uma sílaba 'ca' e fiz a junção das palavras, criando o vocábulo 'parabolicamará'. Uma verdadeira invenção concretista; uma concreção perfeita em som, sentido e imagem. Nela, como um símbolo, vinham-me reveladas todas as interações de mundos que eu queria fazer. Aí se tornou irrecusável prosseguir e, mais, fazer daquilo um emblema do conceito, não só da canção, mas de todo o disco (Parabolicamará)."

*

"Em Parabolicamará pus o tempo existencial, psíquico, em contraposição ao tempo cronológico - a eternidade, a encarnação e a saudade à jangada e ao saveiro - e estes dois ao avião -, para insinuar o encurtamento do tempo-espaço provocado pelo aumento da rapidez dos meios de comunicação física e mental do mundo-tempo moderno e das velocidades transformadoras em que vivemos. Pus também o tempo sub-atômico, da partícula, da subfração de tempo; do átomo de tempo - cuja imagem mais representativa é exatamente a correção equilibradora que a Rosa faz com o balaio. E pus por fim o tempo da morte, o tempo-corte, o tempo que corta, ceifa, o tempo-foice, onde alguma coisa é e de repente foi-se, lembrando - na citação dos caymmianos Chico, Ferreira e Bento - a morte do meu filho: a situação, segundo se imagina, de ele meio sonolento no volante do carro sendo subitamente assaltado pelo evento acidental que o levaria à morte."