27 de ago. de 2006

Relógio sem tempo?!

Um relógio de parede de um corredor de prédio comercial... Várias pessoas passam por ele todos os dias, pessoas de todos os tipos, com seus problemas e alegrias. Aparentam ser alegres e imperturbáveis por alguma coisa. Os ponteiros não param, continuam nas suas rotinas de sempre, progredindo, indo. Mas sempre passam pelo mesmo caminho, isso não muda. Por algumas vezes se atrasam, por outras se adiantam, o que não dá muito certo. O relógio não agüenta mais isso, ele quer se livrar do prego que o segura, que o imobiliza. Mas se ele cair no chão pode se quebrar e as pessoas interminavelmente com pressa nem vão ligar pra ele. Então, o relógio vendo aquela pseudo felicidade dos desconhecidos mantém-se também nessa aparência falsada de felicidade. No entanto, no seu interior, suas engrenagens estão se quebrando. Ele vai continuar pendurado por um prego, inerte, infeliz? As pilhas podem acabar.

...



22 de jun. de 2006

Concreta abstração

Você está no carro em movimento, juntamente com uma pessoa. Duas e cinco da tarde. As portas já estão fechadas. Fazer o CPF? Hoje não tem mais tempo, só amanhã agora. Você resolve aproveitar a carona para ir a um cyber café, pegar a prova de vestibular que você tanto precisava, pois a Internet em casa não estava funcionando direito.Poucos segundos, a tensão dentro do carro aumenta.

- Você não vai.

- Por que?

-Porque não.

-Você está muito solta.

-Eu?!

-É. Já perdi minha confiança em você.

-...

E não disse mais nenhuma palavra em minha defesa enquanto ouço injustiças e palavras mal pensadas. Eu nem sequer me movo, fecho minha boca e não me atrevo a atrapalhar aquela retórica tão bem explanada por quem mais sabe fazê-la.

Tudo ao meu redor torna-se mais perceptível: a lombada, tão bem lineada; os meus tênis, tão quietos e solitários; a água suja do esgoto correndo, sempre com tanta pressa e sem destino certo; o sapo atropelado na pista, com uma função tão sem importância na Terra; o autor daquelas ondas sonoras que me confundiram, sempre do mesmo jeito, e sua confiança, tão impedida de me conhecer (será mesmo?).

“(...)Em vão tento me explicar, os muros são surdos.Sob a pele das palavras há cifras e códigos.O sol consola os doentes e não os renova.As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.(...)”

(A Rosa do Povo, Carlos Drummond de Andrade)

-Bi bi! O carro sabia falar, nunca havia percebido. Descongelei e fui abrir o portão. Após , vou para o meu quarto, para meu mundo.Aquelas ondas sonoras devem ter refletido em alguma coisa, pois acabaram voltando para os meus ouvidos. Mas dessa vez, elas se fixaram e me causaram uma tempestade chuvosa, como essas que aparecem do nada e causam maior desgraça. Merda! Onde está minha rã quando eu mais preciso dela?“Eu já perdi minha confiança em você.” Que confiança? Ela nunca teve confiança em mim ( ou mesmo em ninguém), não seria agora que essa pessoa a perderia. Talvez eu não seja um modelo que ela queria, eu não posso ser o que eu não sou, mesmo às vezes eu estando atuando. Para a sua sociedade, eu uso máscaras. Infelizmente. Sou covarde, eu sei.As palavras dos outros só têm existência se eu quiser. É pode ser. Poderia ter cantado ou, então, ter tapado os ouvidos para não ouvir aquelas ondas sonoras tão perfurantes. Mas eu não consegui, talvez eu não queria. Ou não podia.

Oh, por que a Edslândia não está aqui? Talvez ela seja o pivô para eu estar escrevendo isso. Só me sobrou um papel, nem mesmo um humano. Ela foi embora, libertou-se das minhas palavras chatas e tristes. Cansou-se de mim e foi atrás do seu futuro. Feliz seja ela, está liberta, longe das coisas que a magoam. Felizes são os que podem deixar tudo para trás e agarrar o mundo, independente dos outros, dos que somente fazem você sentir que sua vida é uma merda e você tem que ser um clone de todas as outras pessoas, que você tem que ser como todos foram antes de você. E que você tem que ser submisso, como um servo o é para um senhor feudal, como era...“O forte tira do fraca. Mas o mais esperto tira do forte.” ( Ian Cadwell e Dustin Thomason)

Sempre foi assim: o menos rico é sempre submisso ao mais forte; o mais privilegiado tem sempre um poder superior ao que não tem; e o pai tem sempre mais poder sobre o filho: injustiça? Talvez sim, talvez não. É a convenção, é essa moralidade ridícula.



2 de mai. de 2006

Abstração...

"Os rios mais profundos são os mais silenciosos."


Na imaginação, o tráfego de idéias é plenamente livre e, desse conjunto, apenas só é exposto à realidade o que lhe seja pertinente. Analisando essa frase dita por uma amigo, silenciosa com meus pensamentos, percebo que as pessoas e a realidade em nossa volta são tão incertas quanto o nosso futuro.

Moralidade é configurada antes mesmo de muitos nascerem, mas feita por pessoas, que como eu, têm aspirações e uma consciência dependente do momento histórico em que estavam incumbidas. Tal moralidade, ditas, dogmamente, concreta e necessária de ser seguida pela sociedade, independente de nossos desejos, cria, com isso, um esteriótipo de ser humano digno de uma pseudo-liberdade e julgado, no fim de sua vida, por uma entidade metafísica.

As pessoas vêem suas vidas passarem, caracterizando-as por um conformismo e uma impotente refutação a tudo que lhe é imposto, a tudo que os outros dizem ser o correto, mesmo esses não sabendo nem o que é o ato de pensar. Estes condenam, por não pensarem, aquelas pessoas que os refutam e o modo como elas tentam viver. Por ser uma minoria, esse grupo de visão incomum, muitas vezes, acaba sendo submisso às características da maioria na atuação social, mas não no pensar.

Portanto, muitas pessoas acabam atuando nessa vida de julgamentos, elas acabam tendo a necessidade de mascarar suas concepções por causa de preconceitos, ou mesmo pré-conceitos, de uma maioria que se acha digna de sabedoria. Mas não tem melhor refúgio que a vida interior, o simples ato de pensar sem restrições ou regras. Acatemos um pensamento de Charlie Chaplin:

"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."



Um mini artigo?

Um dos problemas da Educação brasileira é, e importante, a descontinuidade de projetos políticos ou memo a posse de outros governantes. Mudar a nossa educação, com variados problemas existentes, principalmente, em relação à qualidade de ensino e a falta de interesse dos professores devido a baixos salários, não é uma tarefa que pode ser realizada da noite para o dia, não é algo que pode ser executada, de forma eficiente, em apenas quatro anos. É necessário tempo e paciência para uma em efetiva mudança nesse problema social, tendo uma visão de futuro e seguindo uma linha única de mudanças onde não tenha desvios ou atalhos, o que dificulta uma condição fixa e concreta para a Educação brasileira.

Vale salientar, também, o projeto que será votado na Câmara dos Deputados que põe fim à reeleição. Se aprovado, ele representaria mais um motivo para mudanças constantes, ou seja, a cada quatro anos, dos projetos que visam melhorar o sistema educacional e, assim, eles dificilmente seriam concretizados.

Portanto, cabe a nós, e principalmente por ser ano eleitoral, revermos nossas opções de candidatos para o próximo governo, aos quais daremos a responsabilidade da gestão desses projetos e a execução dos mesmos, independente de reeleição.


1 de mai. de 2006

Uma crônica

Certo dia, em um fim de semana talvez, estava em uma rodoviária que, por sinal, parecia um formigueiro de tanta gente circulando. Sentada em um banco, a ansiedade se apossava de mim acompanhada de uma dúvida cruel de desistir da viagem.


Quanto mais ficava ansiosa, mais a spessoas se tornavam perceptíveis a mim. As ações rápidas e, ao mesmo tempo, suaves de quem quer chegar logo em algum lugar. As palavras-cruzadas servindo de companhia para o senhor solitário que espera seu ônibus. O vendedor ambulante tentando vender tudo às pressas antes que o próximo embarque levasse seus fregueses. A senhora, que tinha abraçado, demoradamente, sua neta como se fosse a última vez, desaparecia de vista à medida que o ônibus se afastava, sua neta chorava, chorava como uma criança que havia perdido seu brinquedo favorito e nunca mais o acharia novamente.

E eu, inerte, admirando as pessoas e seus movimentos como alguém anestesiada, que espera por uma operação e desconhece os seus resultados, esperava pela minha própris decisão.


Chegada a hora do embarque, eu continuava ali, no banco, tentando não ter existência e nem vontade própria para assumir a responsabilidade da minha própria decisão. Atendendo ao aviso de embarque, meu corpo, involuntariamente, pegava minha mochila e subia no ônibus, sentando em uma poltrona enquanto uma voz inconsciente dizia que eu ia me arrepender.


O ônibus, então, começou a se movimentar. Eu apenas dormi.



30 de abr. de 2006

Direito Existencial

Por que seria assim? Dessa forma? Essa forma tão comum e ao mesmo tempo tão anormal, tão incomum, mesmo sendo normal à vista das pessoas, da sua sociedade. Seria mesmo? Todo mundo está condicionado a pensar de uma única forma, sendo unidirecional. Mas ele, o ser humano, é a prova mesma de divergência existente na sua realidade, na única realidade comum. Se é unidirecional, por que ele pensaria, discutiria, questionaria? Sua existência é a justificativa disso. Ele é hipócrita. Procura por uma liberdade que ele mesmo a restringiu. Moralidade serve para isso, né? E o Direito? Ao mesmo tempo que este surgiu para garantir a liberdade dos homens, e tão utilizada sobre esse bem, ele também restringiu as ações humanas; ao mesmo em que oferece direitos aos homens, impõe-lhes regras. E o direito não surgiu do nada ou de criação divina, ele também é humano. Seria, mesmo, a sociedade anárquica sem ele?

"O Direito é burguês, é uma super-instituição, como a Igreja." (Karl Marx)



Presente futuro

Estava eu, aqui, pensando na minha vida, sozinha, querendo descobrir o que seria o meu futuro, o que acontecerá amanhã, depois de amanhã, a cinquenta, cem anos.


"Ser contra a globalização é tão razoável quanto protestar quanto ao mau tempo." (Die Zeit)


Será que, no futuro, teria em minha casa um robô que faça as atividades domésticas, atenda à porta e lave o banheiro? Será que nossas casas viverão conectadas, em período integral, com a internet e esta extinguirá o telefone imóvel? Falaremos através de vídeos conferências com as pessoas? Teremos nossas viagens de férias com destinos extra-terrestres? Faremos visitas para cientistas que habitam casas espaciais? As crianças não mais usarão o velho caderno e lápis nas escolas, mas apenas computadores? Os livros serão trocados por sites de pesquisas rápidas e didáticas? Aperfeiçoaremos a telepatia, o teletransporte? Preveremos o nosso futuro? Conheceremos deus? Poderemos nos auto modificar geneticamente para melhorarmos a nossa aparência, no lugar de plásticas e silicones? Usaremos óculos e relógios? Seremos humanos? Seremos felizes?


"As atuais circunstâncias tecnológicas e culturais colocam todos os indivíduos diante de uma bifurcação: deixar-se carregar pela homogeneização massificadora da globalização ou aproveitar as oportunidades, que entretanto existem, para afirmar a própria subjetividade." (Domenico de Masi, O Ócio Criativo , p. 146)


Todos somos conscientes do nosso desenvolvimento durante a história da humanidade, evolução e conhecimento técnico-científico são proporcionais ao andar do tempo. Todas as pessoas, independente de cor, nacionalidade, cultura e renda financeira, serão incluídas nesses "benefícios"? A destruição de línguas e modos de viver de determinadas comunidades humanas é fato atual. Elas sobreviverão a essa revolução-globalizante-alienada? Acontecerá a mesma cena que aconteceu tempos atrás com Incas, por exemplo?